Abri os olhos, olhei para o relógio, 10:44. Pra que acordar agora? Fechei meus olhos, rolei pela cama, olhei para o teto e ouvi o barulho do vento que soprava e mexia as árvores. Eu sabia que seria mais um dia chuvoso e eu não faria questão nem de dar as caras no portão. Não queria ver ninguém, ouvir ninguém. Só queria tirar aquele dia pra descansar e foi exatamente isso o que eu fiz. Não corri atrás e fiquei deitada no sofá o tempo inteiro. E por conhecer as pessoas, eu não queria mais saber delas. Nem que fosse por um minuto, por uma hora, por um dia. Eu queria só saber de mim. Com meu egoísmo e minha xícara de chá. Não trocaria aquele momento por nada. Ficaria ali a semana inteira, o mês inteiro. Naquele dia eu sabia, que ninguém me procuraria também, assim como todos os dias. Sabia que ninguém faria questão de mim, assim como eu não fiz e não faço questão de ninguém. Eu esqueci das pessoas, do egocentrismo e interesse delas. Esqueci os amores que me machucaram, as pedras que me fizeram cair. Eu sabia que naquele dia, eu não ia ver ninguém. Não ouviria nem a buzina dos carros e muito menos veria as folhas que caiam na árvore. Nem na porta de casa eu fui. Eu não queria contato algum com as pessoas e me enfiei no meu esconderijo. Fiquei sozinha com meu tédio e gostei dele imensamente, como nunca havia acontecido antes. Por instante eu me amei mais, me desejei mais, me quis mais. Por um dia, eu não tomei a dose do outro, eu não me droguei de amizades e nem me embriaguei do carinho falso das pessoas. Por um dia meu sorriso foi verdadeiro e eu estava pura. Sem contato algum com qualquer pessoa que possa existir e possa mentir. Com qualquer amigo que eu pudesse pensar que eu tenha. Ninguém ao menos percebeu a minha ausência. Ninguém ao menos percebeu a minha falta de preocupação. A minha indiferença com as pessoas. Não deixei que ninguém estragasse meu dia, mantendo distancia dos alguéns que existem por ai. Dos diversos. Eu fiquei sozinha. E é sozinha que se vê o que se tem, o que se fez, que se deve refazer. É sozinha que eu me entendo, que eu me conheço, que eu me reconstruo. Vinte e quatro horas de pura dedicação. A minha ignorância, a minha seriedade, a minha humanidade, a mim. E me senti imensamente pura. Livre do ar de falsidade que soa das pessoas, que insistem em dizer que se importam ainda. Me senti assim, tão livre e tão presa. Tão pesada e depois tão leve. Tão eu. E isso, compensou a dedicação toda.
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